domingo, 31 de outubro de 2021

Arquitetura e Segurança

Imagem: fotos.habitissimo.com.br/


Há tempo observo a relação entre a mudança na arquitetura de nossas casas e a segurança cada vez mais ausente. Mudança lenta e gradual, porém, incessante. 

Em um passado nem tão distante, as casas contavam com muro baixo, por vezes eram cercas de madeira, sem grades nas janelas ou portões. O tempo passou e o muro baixo foi ficando mais alto. Passou a contar com cacos de vidro, depois peças de aço pontiagudas, logo em seguida vieram as cercas elétricas e hoje, se quiser aumentar a sensação de segurança, acrescente ao muro alto a cerca elétrica e a concertina, sem esquecer das câmeras de segurança. Que lembranças das brincadeiras e conversas à noite nas calçadas, da volta das festas na madrugada, onde o maior perigo era a lembrança das histórias de assombração. Não se cogitava “perder” o relógio, a bicicleta ou aos mais afortunados, a motocicleta.

Nesse meio tempo, que evolução tivemos na segurança ofertada pelo estado que nos suga impostos para supostamente nos proporcionar o bem-estar social? Umas poucas viaturas, o efetivo depauperado que precisa se virar em servir à cidade, ao entorno e a penitenciária local, culpa de promessas falaciosas, que prometem uma visão particular de paraíso e entregam o cenário dantesco que vivemos. Ano que vem as mesmas promessas miraculosas se multiplicam, a solução mágica que vem como em um passe de mágica, abracadabra...

E tenho dito!

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Revendo arquivos, encontrei um texto de 2012 de meu antigo Blog, que poderia ter sido escrito hoje.

Imagem: Arquivo do Blog

O ano é 2232. A nave volta à Terra após viajar pelo espaço por décadas. Seus tripulantes nunca conheceram o planeta, apenas possuíam arquivos repassados pela Estação-Base, mas receberam como missão a tarefa de relatar o progresso havido.

O pouso não foi difícil. A pequena nave não teve dificuldades para aterrissar na área mais apropriada para isso. O grupo, ao descer, procura referencias para se orientar em seu primeiro contato com a terra de seus antepassados. Em uma grande placa, meio enferrujada e caída nos limites do terreno podia-se ler Futuras instalações do Estádio Municipal Pedro P... o resto não estava mais legível, devido à ação do tempo. Rapidamente, alguém lembrou de ter lido em algum lugar informações sobre esta obra importante, onde – dizia-se – os antigos se entregariam à prática de um esporte muito popular à época.

Continuando seu trajeto, desta vez em um veiculo apropriado e munidos de um mapa holográfico, resolvem percorrer uma antiga via que sempre pensaram em conhecer, dadas as informações sobre tudo que já havia ocorrido por lá. De onde estavam vislumbraram a longa avenida e o piloto tem um deja vu. Não pode ser – pensou. Consulta o pequeno computador de dados e vê uma foto do ano de 2015 e a avenida está lá, igualzinha, até mesmo as poças de lama!

- Povo preocupado em conservar sua memória, pensou. Sequer fizeram melhoramentos aqui para não alterar o patrimônio arquitetônico.

Mais à frente os agora exploradores tem dificuldade em seguir adiante, devido a um congestionamento de veículos, causado por um condutor que resolveu parar no meio da via pública para um bate-papo com outro condutor, pelo que notaram, aquilo era rotineiro. Sem perda de tempo, seguem por outra via e assim seguem suas andanças pela cidade. Aqui e acolá podem observar que as pessoas ainda se aglomeram para beber estranhos líquidos e conversar sobre coisas que fogem à compreensão humana, como uns tais realitys shows.

- Deixemos isso pra lá. Não viemos aqui para isso.

Mais à frente, encontram uma construção antiga, talvez a mais antiga que eles tenham visto até então. Inicialmente não compreenderam aquela multidão nas proximidades: bêbados, desocupados, funcionários, trabalhadores em geral, produtos pelo chão e ocupando calçadas, mas depois ficaram sabendo que naquele lugar os nativos se abasteciam de víveres essenciais, como carnes e frutas. Acharam tudo meio desajeitado e não deixaram de reparar na sujeira do local. Possivelmente haveriam pequenos animais e insetos no meio da balbúrdia. Melhor não parar ali. Estranharam o fato de que nos registros oficiais que dispunham nos arquivos, ali deveria ser bem diferente do que era. Inclusive, lembram de ter visto maquete digitalizada onde o espaço era composto por dois andares e uma escada transportava automaticamente as pessoas para cima e para baixo.

Exaustos e totalmente tostados pelo sol abrasador – não viram uma única árvore em toda a andança – o grupo explorador resolve voltar à nave, não sem antes constatar que enquanto esquadrinhavam o local, alguns de seus pertences pessoais desapareceram misteriosamente e eles não entenderam como isso pode ter ocorrido. Melhor não tentar entender mais nada, comentaram entre si. As coisas por aqui continuam como antes.

Sua missão chegou ao fim, pois deveriam registrar as mudanças em relatório, mas diante de tudo que viram, resolvem apenas reafirmar tudo que lá havia registrado. E antes que fossem acidentados por uma multidão enlouquecida que conduzia antigos veículos motorizados de duas rodas, rumaram para a nave e partiram sem olhar para baixo. 

No relatório agendam: próxima visita em 3152.