Revendo arquivos, encontrei um texto de 2012 de meu antigo Blog, que poderia ter sido escrito hoje.
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Imagem: Arquivo do Blog |
O ano é 2232. A nave volta à Terra após viajar
pelo espaço por décadas. Seus tripulantes nunca conheceram o planeta, apenas
possuíam arquivos repassados pela Estação-Base, mas receberam como missão a
tarefa de relatar o progresso havido.
O pouso não foi difícil. A pequena nave não teve
dificuldades para aterrissar na área mais apropriada para isso. O grupo, ao
descer, procura referencias para se orientar em seu primeiro contato com a
terra de seus antepassados. Em uma grande placa, meio enferrujada e caída nos
limites do terreno podia-se ler Futuras instalações do Estádio Municipal Pedro P... o
resto não estava mais legível, devido à ação do tempo. Rapidamente, alguém
lembrou de ter lido em algum lugar informações sobre esta obra importante, onde
– dizia-se – os antigos se entregariam à prática de um esporte muito popular à
época.
Continuando seu trajeto, desta vez em um veiculo apropriado
e munidos de um mapa holográfico, resolvem percorrer uma antiga via que sempre
pensaram em conhecer, dadas as informações sobre tudo que já havia ocorrido por
lá. De onde estavam vislumbraram a longa avenida e o piloto tem um deja
vu. Não pode ser – pensou. Consulta o pequeno computador de dados e vê uma
foto do ano de 2015 e a avenida está lá, igualzinha, até mesmo as poças de
lama!
- Povo preocupado em conservar sua memória, pensou. Sequer
fizeram melhoramentos aqui para não alterar o patrimônio arquitetônico.
Mais à frente os agora exploradores tem dificuldade em
seguir adiante, devido a um congestionamento de veículos, causado por um
condutor que resolveu parar no meio da via pública para um bate-papo com outro
condutor, pelo que notaram, aquilo era rotineiro. Sem perda de tempo, seguem
por outra via e assim seguem suas andanças pela cidade. Aqui e acolá podem
observar que as pessoas ainda se aglomeram para beber estranhos líquidos e
conversar sobre coisas que fogem à compreensão humana, como uns tais realitys
shows.
- Deixemos isso pra lá. Não viemos aqui para isso.
Mais à frente, encontram uma construção antiga, talvez a
mais antiga que eles tenham visto até então. Inicialmente não compreenderam
aquela multidão nas proximidades: bêbados, desocupados, funcionários,
trabalhadores em geral, produtos pelo chão e ocupando calçadas, mas depois
ficaram sabendo que naquele lugar os nativos se abasteciam de víveres
essenciais, como carnes e frutas. Acharam tudo meio desajeitado e não deixaram
de reparar na sujeira do local. Possivelmente haveriam pequenos animais e
insetos no meio da balbúrdia. Melhor não parar ali. Estranharam o fato de que
nos registros oficiais que dispunham nos arquivos, ali deveria ser bem diferente
do que era. Inclusive, lembram de ter visto maquete digitalizada onde o espaço
era composto por dois andares e uma escada transportava automaticamente as
pessoas para cima e para baixo.
Exaustos e totalmente tostados pelo sol abrasador – não
viram uma única árvore em toda a andança – o grupo explorador resolve voltar à
nave, não sem antes constatar que enquanto esquadrinhavam o local, alguns de
seus pertences pessoais desapareceram misteriosamente e eles não entenderam
como isso pode ter ocorrido. Melhor não tentar entender mais nada, comentaram
entre si. As coisas por aqui continuam como antes.
Sua missão chegou ao fim, pois deveriam registrar as mudanças
em relatório, mas diante de tudo que viram, resolvem apenas reafirmar tudo que
lá havia registrado. E antes que fossem acidentados por uma multidão
enlouquecida que conduzia antigos veículos motorizados de duas rodas, rumaram
para a nave e partiram sem olhar para baixo.
No relatório agendam: próxima
visita em 3152.