quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A Micareta e o camarote, o cercadinho da alegria nem tão pública assim

Fonte: memeandoelpensador/Facebook

Nada mais brasileiro do que financiar com dinheiro do povo uma festa “pública” que, curiosa, mas não surpreendentemente, não é para o povo inteiro. Eis a micareta: paga pelo erário e vendida como celebração popular, mas com seus abadás e equipada com camarotes reluzentes e que funcionam como passaporte para o “andar de cima”, o olimpo do alpinismo social neste território bendito e ordeiro.

Porque festa, caríssimos deslumbrados, não pode ser bagunça democrática. Tem que ter hierarquia! O camarote é o cercadinho VIP: lá dentro, ar-condicionado, open bar, banheiro limpo e a tranquilidade de não ter que esbarrar no povão suado que, ironicamente, também bancou a festa. Afinal, o que seria da alegria se não fosse possível separar a elite do resto da plebe? E o que dizer das selfies nos camarotes para as redes sociais, mostrando e demonstrando a exclusividade e chiqueza “no último” dos escolhidos e bem-nascidos?

O abadá, por sua vez, é a farda colorida do gado bem-comportado. Ele marca no peito quem se diferencia, embora no meio da multidão. É o bilhete premiado que transforma uma festa coletiva em condomínio fechado de diversão. E ainda será a farda na academia, lembrança de momentos épicos.

E o povo? Esse, que se vire nos espaços restantes. O lugar dele é na arquibancada da vida real, pagando a cerveja quente, três vezes mais cara, mordiscando aquela carne ressequida. Tudo enquanto observa lá no alto os “cidadãos especiais”, desfrutando de um espetáculo que só existe porque a massa anônima, essa mesma da rua, financiou o palco, o trio e até o som que atormenta.

No fim, a micareta é pública, mas a diversão é privada. Um laboratório perfeito da democracia tropical: todos pagam, alguns se divertem. Como no refrão que nunca falha, a festa segue no melhor estilo “vida de gado” – marcada, separada e conduzida.

Ah, e antes que o mundo acabe, esqueça o caos no trânsito que há semanas incomoda aos que não se dispõem a compor a claque. São efeitos colaterais, o que vale é a alegria do… povo?

E tenho dito!