segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Que rufem os tambores, chegou A oportunidade!

Imagem do Arquivo.


Tão esperado pelo funcionalismo municipal, foram iniciados os cadastros de inscrições e simulações de contratos com vistas à concretização do sonho da cada própria, por meio do fabuloso programa Minha Casa ou Minha Vida, versão cocais.

Celebrado como a última bolacha do pacote, cantado  em verso e prosa pelos quatro cantos (?) do mundo como a redenção do funcionalismo, após séculos de descasos e tals... eis que surge a agulha no palheiro de oportunidades para conseguir o imóvel dos sonhos.

Só esqueceram de avisar que as tais casas serão quitadas pelos netos dos ora adquirentes, pois a proposta de financiamento vislumbra infindáveis 35 anos como prazo final de pagamento dos imóveis. É possível até dar tempo de ver um mundial do Palmeiras antes de quitar. A depender da renda e idade dos proponentes à compra, as parcelas saem bem salgadas para ser honradas com seus combalidos salários, já carcomidos pelos empréstimos nossos de cada dia. Por outro lado, acredito que esta será a deixa, a oportunidade de ouro para que seja ofertado um aumento considerável de salário ao funcionalismo, visando proporcionar a estes o devido respaldo financeiro para pagar as prestações. A salvação da lavoura. Rááá, pegadinha do malandro!! Vem fazer glu, glu!

Como não posso abrir mão de um rim, fui catapultado da insólita oportunidade de ser o proprietário de um destes imóveis. Antes de aderir ao programa é preciso escolher: Minha Casa ou Minha Vida, pois os valores despendidos na compra do imóvel constituem parte substancial do mirrado orçamento da maioria dos servidores, pretensos alvos do programa. Abrir mão da excursão do final de ano, a cerveja gelada com churrasco no final de semana ou o caldo de cana com pastel do dia-a-dia parece razoável, afinal, trata-se da casa dos sonhos! Mas para quem já vislumbra como única possibilidade de mensalidade o pagamento do consórcio da morte, aquele plano funerário que dá cafezinho no funeral, a casa é só mais um sonho inalcançável.

E tenho dito!

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Habemus festa!

Imagem disponível em https://www.creativefabrica.com


Enfim, chega o momento de realização da esperada festa. Motivo de alegria para muitos e promessas de campanha de todos, a festa volta, mas com certo ar caquético, com toques de revival e recendendo a mofo.

Depois de décadas, está de volta a folia que promete alegria aos desamparados culturais. Hora de esquecer os problemas de ruas escuras, sem calçamento e da falta de água nos rincões da zona rural. Para além do oba-oba geral, alguns questionamentos me veem à mente, como quais motivos levam alguém em sã consciência a enfrentar horas em uma fila para trocar alimentos por uma camiseta de propagandas. Seria para se diferenciar do resto do mundo? Se a festa é popular, porque a necessidade de uniforme? Seria para usar na academia depois de tudo?

O palco da festa é o mesmo de sempre, a avenida ora fantasiada de urbanidade, que passa dias submersa no restante do ano por falta de saneamento, tornada pista de rally por incautos condutores de veículos e estacionamento para desatentos “donos do mundo” em seus bólidos.

Mas afinal, qual a finalidade disso tudo, entreter a plebe, centralizar as atenções na transformação dos espaços urbanos, demonstração de força política ou todas as alternativas? E porque às autoridades e burgos o Olimpo do camarote e à patuléia a planície rasa da rua? A quem não se vê atraído pelas atividades, músicas ruins, resta assistir a tudo resignado, vendo o caótico trânsito de mercado egípcio, a barulheira das motos enlouquecidas, entre outros aspectos não planejados.

Enfim, serão dias esquecíveis em que, se repetido público de outras edições haverá colapso na oferta de alguns produtos e serviços e finalmente uma segunda com cara de quarta-feira de cinzas.

E tenho dito!

domingo, 16 de abril de 2023

A cidade sobre seus escombros

Imagem: Google


Eis que a modernidade tenta dar as caras nestas terras de verdes ramagens. Desta feita, o coelho da cartola é suprimir o restante do combalido, esquálido e incipiente patrimônio histórico do município para dar lugar a um moderno centro cultural e artesanal. Deve ser aproveitado o momento para criar a cultura também, a menos que se queira exibir ad eternum festivais de quadrilhas e uma ou outra encenação, além de expor anéis de tucum e panos de prato decorados.

Para dar vazão às intenções, a proposta é que seja substituído (demolido?) o mais antigo clube de festas da cidade, local de memoráveis encontros festivos, formaturas, matinês, carnavais e outros ao longo de décadas. Se é verdade que o clube amarga no ostracismo, também é verdade que os membros sócios podem e devem reagir para que se resolva a questão no âmbito particular, decidindo qual caminho seguir.

Se erguer nova cidade sobre os escombros da antiga é preocupante. Nesta de modernidade, a cidade já perdeu a mais antiga escola, que poderia no mínimo ser convertida em centro administrativo ou algo que o valha. Entre todas as opções, escolheram a pior e o prédio foi demolido dando lugar à sede de outro poder. Tudo isso sob o olhar complacente da população manietada e ensimesmada.

Assistimos à tentativa de reescrever a história com as próprias e novas tintas, no melhor estilo “daqui pra frente”, ao largo de qualquer pensamento contrário. E o que diz o conselho do patrimônio histórico? Temos isso? Existe preocupação em reter no tempo algo que remonte ao passado da cidade? Não somos inaugurais. A sociedade moderna só chegou ao atual nível de conhecimento por alicerçar suas ações baseadas no passado. O passado de uma cidade, suas memórias afetivas são coisas que não se consegue manter apenas em “uma sala” para contar à descendência como era vida de outrora. Que referência temos? É preciso apagar o passado construído a duras penas para dar lugar à modernidade efêmera em seus desejos? Segundo o IBGE, a cidade tem área territorial de mais de 908,748 km2 e se quer modernizar justamente sobre escombros da história ainda resistente.

O que resta de património histórico no município, que ajude a posteridade a conhecer seu passado? A memória de um entrevero entre nativos e ciganos? O futuro, o almejado futuro, nada mais é que uma projeção de nossas expectativas, lastreadas em experiências passadas.

E tenho dito! Tic-Tac.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Uma odisseia no espaço - versão cocais

Imagem: https://www.wemystic.com.br

Republicação de postagem do ano de 2012.

O ano era 2232. A nave volta à Terra após viajar pelo espaço por décadas. Seus tripulantes nunca conheceram o planeta, apenas possuíam arquivos repassados pela Estação-Base, mas receberam como missão a tarefa de relatar o progresso havido. O pouso não foi difícil. A pequena nave não teve dificuldades para aterrissar na área mais apropriada para isso. O grupo, ao descer, procura referencias para se orientar em seu primeiro contato com a terra de seus antepassados. Em uma grande placa, meio enferrujada e caída nos limites do terreno podia-se ler Futuras instalações do Estádio Municipal P... o resto não estava mais legível, devido à ação do tempo. Rapidamente, alguém lembrou de ter lido em algum lugar informações sobre esta obra importante, onde – dizia-se – os antigos se entregariam à prática de um esporte muito popular à época.

Continuando seu trajeto, desta vez em um veiculo apropriado e munidos de um mapa holográfico, resolvem percorrer uma antiga via que sempre pensaram em conhecer, dadas as informações sobre tudo que já havia ocorrido por lá. De onde estavam vislumbraram a longa avenida e o piloto tem um deja vu. Não pode ser – pensou. Consulta o pequeno computador de dados e vê uma foto do ano de 2015 e a avenida está lá, igualzinha, até mesmo as poças de lama! - Povo preocupado em conservar sua memória, pensou. Sequer fizeram melhoramentos aqui para não alterar o patrimônio arquitetônico.

Mais à frente os agora exploradores tem dificuldade em seguir adiante, devido a um congestionamento de veículos, causado por um condutor que resolveu parar no meio da via pública para um bate-papo com outro condutor, pelo que notaram, aquilo era rotineiro. Sem perda de tempo, seguem por outra via e assim seguem suas andanças pela cidade. Aqui e acolá podem observar que as pessoas ainda se aglomeram para beber estranhos líquidos e conversar sobre coisas que fogem à compreensão humana, como uns tais realitys shows. - Deixemos isso pra lá. Não viemos aqui para isso. Mais à frente, encontram uma construção antiga, talvez a mais antiga que eles tenham visto até então. Inicialmente não compreenderam aquela multidão nas proximidades: bêbados, desocupados, funcionários, trabalhadores em geral, produtos pelo chão e ocupando calçadas, mas depois ficaram sabendo que naquele lugar os nativos se abasteciam de víveres essenciais, como carnes e frutas. Acharam tudo meio desajeitado e não deixaram de reparar na sujeira do local. Possivelmente haveriam pequenos animais e insetos no meio da balbúrdia. Melhor não parar ali. Estranharam o fato de que nos registros oficiais que dispunham nos arquivos, ali deveria ser bem diferente do que era. Inclusive, lembram de ter visto maquete digitalizada onde o espaço era composto por dois andares e uma escada transportava automaticamente as pessoas para cima e para baixo.

Exaustos e totalmente tostados pelo sol abrasador – não viram uma única árvore em toda a andança – o grupo explorador resolve voltar à nave, não sem antes constatar que enquanto esquadrinhavam o local, alguns de seus pertences pessoais desapareceram misteriosamente e eles não entenderam como isso pode ter ocorrido. Melhor não tentar entender mais nada, comentaram entre si. As coisas por aqui continuam como antes. Sua missão chegou ao fim, pois deveriam registrar as mudanças em relatório, mas diante de tudo que viram, resolvem apenas reafirmar tudo que lá havia registrado. E antes que fossem acidentados por uma multidão enlouquecida que conduzia antigos veículos motorizados de duas rodas, rumaram para a nave e partiram sem olhar para baixo. No relatório agendam: próxima visita em 3152.