domingo, 2 de novembro de 2025

Ad aeternum ele, o trânsito caótico

 

Imagem disponível em https://www.espacovital.com.br/

Em Cocal City, o trânsito é uma mistura de circo e campo de guerra – com palhaços e soldados trocando de papel sem aviso prévio. As ruas, que deveriam ser vias de circulação, viraram território livre para manobras de toda espécie: motos subindo calçadas, carros parando no meio da rua “só um minutinho”, semáforos ignorados com a mesma naturalidade de quem ignora a previsão do tempo. A regra é simples: quem tem o veículo mais potente, passa primeiro. Salve-se quem puder.

Enquanto isso, as autoridades observam tudo com a serenidade de um iogue em contemplação, mais silenciosos que o carro do lixo. Os agentes, sob diretrizes, quando aparecem, parecem figurantes de novela - estão ali apenas para compor o cenário. As leis de trânsito em Cocal City, são como as placas de “proibido estacionar”: decorativas, simbólicas, quase folclóricas, salvas pela oportunidade ímpar de organizar o trânsito nos festejos. A fiscalização é tão rara que já virou lenda urbana: dizem que certa vez um motorista foi multado, mas ninguém sabe ao certo se foi verdade.

E os diligentes escolhidos, sempre atentos à aritmética eleitoral, preferem o caos à coragem. Proibir, punir ou educar dá trabalho e pior, tira voto. Em Cocal City paece qu o voto do infrator vale mais do que a vida dos cidadãos. Assim, o desrespeito vai sendo tratado como manifestação cultural, igual aos urubus domesticados pelas ruas, e a barbárie cotidiana ganha status de normalidade – um retrato perfeito de uma cidade que desaprendeu o que é civilização.

E tenho dito!

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A Micareta e o camarote, o cercadinho da alegria nem tão pública assim

Fonte: memeandoelpensador/Facebook

Nada mais brasileiro do que financiar com dinheiro do povo uma festa “pública” que, curiosa, mas não surpreendentemente, não é para o povo inteiro. Eis a micareta: paga pelo erário e vendida como celebração popular, mas com seus abadás e equipada com camarotes reluzentes e que funcionam como passaporte para o “andar de cima”, o olimpo do alpinismo social neste território bendito e ordeiro.

Porque festa, caríssimos deslumbrados, não pode ser bagunça democrática. Tem que ter hierarquia! O camarote é o cercadinho VIP: lá dentro, ar-condicionado, open bar, banheiro limpo e a tranquilidade de não ter que esbarrar no povão suado que, ironicamente, também bancou a festa. Afinal, o que seria da alegria se não fosse possível separar a elite do resto da plebe? E o que dizer das selfies nos camarotes para as redes sociais, mostrando e demonstrando a exclusividade e chiqueza “no último” dos escolhidos e bem-nascidos?

O abadá, por sua vez, é a farda colorida do gado bem-comportado. Ele marca no peito quem se diferencia, embora no meio da multidão. É o bilhete premiado que transforma uma festa coletiva em condomínio fechado de diversão. E ainda será a farda na academia, lembrança de momentos épicos.

E o povo? Esse, que se vire nos espaços restantes. O lugar dele é na arquibancada da vida real, pagando a cerveja quente, três vezes mais cara, mordiscando aquela carne ressequida. Tudo enquanto observa lá no alto os “cidadãos especiais”, desfrutando de um espetáculo que só existe porque a massa anônima, essa mesma da rua, financiou o palco, o trio e até o som que atormenta.

No fim, a micareta é pública, mas a diversão é privada. Um laboratório perfeito da democracia tropical: todos pagam, alguns se divertem. Como no refrão que nunca falha, a festa segue no melhor estilo “vida de gado” – marcada, separada e conduzida.

Ah, e antes que o mundo acabe, esqueça o caos no trânsito que há semanas incomoda aos que não se dispõem a compor a claque. São efeitos colaterais, o que vale é a alegria do… povo?

E tenho dito!